sábado, 27 de septiembre de 2008

ynaia e arimã

"Arimã apaixonou-se perdidamente por Ynaiá. Ele, bugre venturoso e destemido, mudou toda a sua vida em razão de tão desmedido amor. Ela, de lindeza primorosa, de boa índole e de família muitíssimo honrada, tal qual ele, entregou-se a esse amor incomum, oferecendo ao guerreiro o melhor de sua vida... Sendo inapelavelmente sua companheira pro resto de sua existência. Porém, como em todo grande amor, que o mal percorre na providência da calamidade, este também foi precedido por persecuções e inveja mórbida. Entre o amor colossal de Arimã e Ynaiá, punha-se Rottú, o ignóbil, a cobiçar a linda moça... Rottú era um inescrupuloso ser concebido pelos poderes nocivos da inveja e do desprazer. Rottú odiava mortalmente Arimã, embora nem o conhecesse... Sua aversão simplesmente fluiu quando percebeu que Ynaiá nunca mais poderia olhar para outra face masculina, dada a dimensão inimaginável do amor que sentia por Arimã. Sua fidelidade ao guerreiro seria seu norte para viver com honradez e ser muito amada. Rottú não conseguia repousar nas noites de negra imensidão que se faziam em seu íntimo ferido. O rival desolado procurava incansavelmente forjar meios de extinguir a felicidade daqueles dois seres apaixonados, que se faziam, em meio às investidas de Rottú, pele e carne, numa adesão vinculada à eternidade, o que matava paulatinamente o invejoso Rottú. O desgostoso cobiçador de Ynaiá, nunca havia amado verdadeiramente a jovem índia; sequer gostava de verdade dela... Rottú queria tão-só possuí-la para poder alcançar o que mais almejava nessa vida: a destruição completa do honrado Arimã, o filho de Dhomôr, o deus da luz. Uma vez que Rottú entendia que Arimã jamais viveria sem Ynaiá, ponderou que atentando contra aquele amor absoluto, aniquilaria o guerreiro... Rottú sabia que se um homem tivesse o seu amor extorquido de seu coração, impiedosamente, escolheria a morte a permanecer vivo amargando os infortúnios da solidão. Rottú sabia que quando um homem de verdade possuía um único amor, doava-se integralmente em favor dele... Quando um homem ama apenas a uma mulher, cega-se a ele mesmo para que jamais contemple outra face de fêmea... Quando um guerreiro idolatra um único amor, nunca mais se dá a prazeres gratuitos e efêmeros, e assim era Arimã... Rottú sabia de tudo isso, o que o feria intensamente, todos os dias... O vil e desprezível Rottú jamais possuiu os apanágios de Arimã, que nasceu com a virtude natural de amar e ser amado... Rottú pedia aos deuses todos os dias que pudesse possuir os dons de Arimã, para assim obter seu objeto de luta, Ynaiá... Rottú não entendia o porquê de somente Arimã possuir prerrogativas tão assustadoramente especiais: o respeito, a entrega plena, o zelo pelo seu amor, a proteção, a fidelidade, a abnegação, a honra, a alegria de ser amado, a confiança no divino, a esperança, a coragem, o destemor... Assim era Arimã, o filho de Dhomôr, o deus da luz... Arimã era um ser repleto de encantamento... Arimã tinha sido escolhido, entre muitos, para oferecer à mulher amada o melhor de suas glórias e lutas... A mulher que o amasse seria a mais feliz do Universo enigmático e que encerra mistérios... Rottú incessantemente se aproximava de Ynaiá, com mentiras e desfaçatez impressionantes... Propunha sempre a Ynaiá que rompesse com o seu grande amor, persuadindo-a sobre o guerreiro Arimã ser inferior a ele... Pregava que Arimã era nocivo à vida daquela linda mulher... Conspirava Rottú... Atraiçoava Rottú, todavia, quanto mais punha nódoas de mácula no caráter de Arimã, tanto mais Ynaiá o amava perdidamente... O amava tão intensamente que rompeu com o mundo por causa desse amor, que ela entendia ser singular. Ynaiá disse a Rottú que Arimã era a parte da sua vida que faltava chegar. Dizia com emoção que Arimã compunha parte vital de seu corpo lindo de fêmea amada... Dizia veementemente que sua existência se devia ao amor que sentia por Arimã, e que sem ele morreria de tristeza e de desgosto. Rottú, arrebatado pela desesperança, admitiu ruinosamente a derrota de sua iniqüidade... Muito pouco foi necessário para que Rottú, o anjo da maldade e do desgosto, concebesse que jamais teria poder para arruinar aquele amor intenso entre Arimã e Ynaiá. Bastaram apenas algumas doces palavras vindas do coração da índia, e algumas lágrimas de emoção que se resvalavam de seus olhos apaixonados, para que o usurpador sentisse em seu espírito moribundo o extermínio de suas maldosas intenções... E de tanto desgosto, sucumbiu mortalmente Rottú... Perenizaram-se Arimã e Ynaiá, caminhando triunfantes e entrelaçados, porém, em comiseração e dó pela sofreguidão do injusto Rottú... Arimã e Ynaiá são o maior referencial de amor que Tupã, o Senhor do Universo, deixou como herança para a humanidade... Imenso era o amor de Arimã e Ynaiá, que destruiu a crueza de Rottú, o anjo do desgosto."

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